Professor, apesar da comprida missão, da pouca valorização, você se apresenta com a consciência tranqüila pela missão cumprida. Parabéns por ainda existir, apesar de...
Após 183 anos da 1ª Lei Geral da Educação Imperial ainda não se atingiu esse desiderato republicano: a educação de qualidade.
Em 15 de outubro de 1827 D. Pedro I outorgou o decreto imperial relativo ao Ensino Elementar, Escola de Primeiras Letras, com descentralização do ensino, remuneração dos professores e mestres, ensino mútuo ou método Lancaster, currículo mínimo, admissão de professores e escolas de meninas.
Nossa lei geral da educação republicana, a LDB-1996, persegue, ainda, os ideais imperiais adicionados com o imperativo constitucional do ensino obrigatório e gratuito, inclusive para todos os que não tiveram acesso na idade própria.
Continua sendo a remuneração dos professores o grande gargalo da política educacional, do Império à Nova República, de Dom Pedro I aos dias atuais.
O grande mérito do Imperador foi o de não se descuidar, pelo menos formalmente, dos salários dos professores, com atenção às circunstâncias da população e carestia dos lugares. Os professores no século XXI recebem bem aquém dos parâmetros estabelecidos pela lei imperial no século XIX, pois falta vontade política.
Hoje, os milhares de professores leigos e algumas centenas com licenciaturas breves espalhados pelo Brasil fazem-nos lembrar da época imperial, com déficit de professores habilitados. Triste é a nação que não privilegia o ensino. Os docentes não têm muito a comemorar, porém continuam esperando que as condições sociais, políticas, econômicas e culturais lhe sejam favoráveis. A realidade é refletida na maneira de ser, de vê-la e nos relacionamentos com ela. O século atual tem alguns desafios intelectuais e éticos, dentre os quais a mudança de mentalidade, da forma pela qual a interpretamos, lemos e relacionamos com um mundo em constante mudança.
Cabe ao professor transmitir paixão e curiosidade para aprender. Educar é humanizar, é crer e confiar no ser humano e estar disposto a engrandecer em cada um de seus alunos o universo de suas potencialidades,a aumentar neles o potencial de inteligência, de sensibilidade, de solidariedade, de curiosidade e incerteza.É a maior e talvez a mais importante célula da sociedade porque tem um sonho: o de tornar possíveis os sonhos do mundo, sedento por uma vida menos escura, mas cheia de luz.Um professor vê a vida nascer a cada dia com novas perguntas, idéias, amizades.É um caçador de tesouros em tempo integral.Está nas mãos do professor o poder de educar para transformar a realidade educativa e ajudar o ser humano a ser mais humano, combatendo as desigualdades; liberta no aluno seu sonho e sua ambição para não ficar no labirinto enclausurado e ser arrastado pelas conjunturas e mensagens publicitárias que não são verdadeiras ou tão importantes para a vida ou para o país. A felicidade pessoal e a profissional são dimensões inseparáveis em torno das quais gira o mestre, quer no ensino presencial ou à distância. Nesta cidade moderna democrática da internet, onde o mestre continua a ser um obreiro do mundo por fazer, todo o desafio é mais um convite à luta, a possíveis novos sonhos e planos, a despeito de todas as dificuldades e obstáculos. É certo que as reivindicações, os protestos, as greves não foram em vão e, sim, servirão para a grande arrancada que o Brasil sofrerá partir da valorização da educação e do educador.
A educação só tem sido prioritária nos discursos, conforme se vê nas mensagens televisivas, e se constata nas pesquisas em orçamentos . O adequado financiamento da educação poderia melhorar a qualidade prevista no PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação) e diminuir a insatisfação dos professores brasileiros com os salários (um dos piores da América do Sul, Ásia e norte da África), a escassez de recursos para pesquisas, para cursos de qualificação e para os melhoramentos necessários das escolas. A educação e as políticas sociais não podem ser lançadas à arena para lutarem e se devorarem entre si na luta pelas verbas.Para ser justo e assegurar qualidade (com escola inovadora que aproxime o aluno do mercado de trabalho, com matrizes curriculares promovendo flexibilidade, dinamismo e interdisciplinaridade necessários à formação acadêmica para atender às expectativas do mercado de trabalho e com professores com foco no mercado) seria necessário dobrar o investimento público na Educação Básica e ampliar o investimento em educação pública.O financiamento, a vinculação do orçamento, é primordial para conseguirmos o desiderato republicano: a educação de qualidade.
Silvério do Prado,
Assessor Educacional da FESEMPRE